segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

AS PALAVRAS TAMBÉM AGRIDEM

Artigo de autoria do Tenente Coronel PM Humberto Gouvêa Figueiredo, comandante do 36º BPM/I, publicado no Jornal "Gazeta de Limeira", edição de 03/02.

(*) Humberto Gouvêa Figueiredo

Muitos de nós, ao ouvir falar sobre violência, logo pensam em uma agressão física: um empurrão, um tapa, um chute ou qualquer outro ato que se concretize por contato entre um ser humano e outro, seja ele de que sexo for. Também imaginamos que a violência tem como resultado sempre uma lesão, uma marca, um sinal, que materialmente pode ser demonstrado e comprovado.


Mas não é bem assim!



É violência também qualquer manifestação verbal que tenha por objetivo depreciar uma pessoa em relação a outra. A violência verbal ou psíquica não deixa marcas aparentes, não apresenta sinais externos, mas provoca um ferimento profundo na alma de quem a sofre e quase sempre permanece para o resto de sua vida.



Um ferimento físico pode ser tratado com facilidade e quase sempre se cura, cicatriza, tornando-se imperceptível. A ferida psíquica até pode ser curada, mas a sua terapia é muito mais complexa e os resíduos que pode deixar fazem com que quem a sofreu tenha muitas dificuldades para voltar a ser o que era antes.



Muitas mulheres são vítimas desse tipo de agressão: são humilhadas no ambiente do lar com palavras ofensivas que quase sempre se fazem acompanhar de tapas, pontapés ou empurrões.



Pesquisas apontam que, em média, 97% das mulheres que são agredidas física e psiquicamente por seus maridos, companheiros ou conviventes, se calam, omitem e preferem não levar ao conhecimento da polícia o crime do qual foram vítimas – calam-se por não ter para onde ir, por não se sentir em condições de criar seus filhos sozinhas e, principalmente por medo de voltar a ser agredidas por seus maridos, porque o Estado não lhes dá garantias concretas do contrário.



Esse cenário me assusta!



Sendo eu um servidor público da área de segurança, a situação se torna ainda mais preocupante, pois minha opinião se embasa em dados objetivos e em uma percepção técnica de quem convive com esse problema no dia a dia.
Temos legislação que regula o assunto, mas de nada adianta uma lei moderna se o seu resultado final não for atingido: corremos novamente o risco de ver mais uma “lei que não pegou”, tal como tantas outras do arcabouço jurídico brasileiro.



Penso que a indignação social deve já partir da violência praticada pelo uso da palavra: esta machuca, ofende e deve ser reprovada pelo conjunto da sociedade.



Se admitida e compreendida como um “erro anão”, consistirá na inauguração de um processo que avançará para estágios seguintes de violência, e que poderá culminar até com a morte da vítima.



Cabe a cada um de nós refletir sobre este tema e assumir uma posição proativa na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, em que homens e mulheres sejam semelhantes em direitos e obrigações, e não subjuguem uns aos outros.
É o que penso!

Humberto Gouvêa Figueiredo é tenente-coronel da PM e comandante do 36º BPM/I.

Link do texto: http://gazetainfo.hospedagemdesites.ws/site/index.php?r=noticias&id=23629

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