Segue abaixo artigo de autoria do comandante do 36º BPM/I, publicado no Jornal Gazeta de Limeira em sua edição de hoje (28/10):
(*) Humberto Gouvêa Figueiredo
Tenho visto e ouvido muita gente
na comunidade, na imprensa e pessoas que ocupam cargo público ou de destaque
comentando sobre a Polícia, seu modelo ideal e como devem ser e portar seus
integrantes.
A questão que se levanta é “que
Polícia desejamos para a nossa sociedade?”.
Embora possa parecer o contrário,
não será fácil achar resposta para esta questão, pois são inúmeros os
interesses afetados no dia em que for alcançado um modelo de Polícia que não se
submeta às pressões, quer sejam elas oriundas de autoridades, quer de cenários
políticos ou sociais que sempre colocam em risco alterações em sua estrutura e
na vida e carreira de seus integrantes.
A Polícia que acredito ser a ideal
é aquela que tem o mesmo acesso e facilidades para agir contra o mais carente,
o menos favorecido, o mais pobre, o que habita a região periférica das cidades
e contra aquele que tem dinheiro, que usa gravata, fala língua estrangeira e se
alimenta em restaurantes caros – tanto um quanto o outro, quando comete um
crime ou está na iminência de fazê-lo, deve estar susceptível à ação do Estado
e, desta forma, ser responsabilizado por seus atos na mesma medida.
Infelizmente não é essa a
realidade que temos no Brasil como um todo: a nossa legislação dá amplas
possibilidades para quem tem mais recurso, de modo que não seja penalizado por
atos criminosos praticados.
Tenho notado um avanço muito
grande por parte das polícias em
São Paulo no sentido de avançar para este ideal que, no fundo,
nada mais é do que a transformação das instituições policiais em mecanismo de
defesa da própria sociedade, do conjunto das pessoas que habitam as cidades.
A vocação da Polícia, na sua essência,
é a de proteger as pessoas e não o Estado: e no nosso País, pela absurda
distorção econômica e social, visto que temos muito mais pobres do que ricos, deve-se
ter a interpretação lógica de que os organismos policiais devem estar próximos
dos mais humildes, dos mais carentes e
com ligação, tanto quanto possível, tênue em relação à estrutura formal do
Estado.
A Polícia não pode ser o mecanismo
disponibilizado pelo Estado para a sua própria proteção ou, pior ainda, para
servir como instrumento de defesa dos “mais ricos” contra o “ataque” dos “mais
pobres” – ser pobre não significa ser bandido, ser criminoso: se isso fosse
verdade, no Brasil teríamos uma “massa de delinqüentes” enorme, dada a já
citada discrepância econômica vigente, que potencializa geograficamente os mais
humildes.
Sou otimista!
Este dia chegará e nunca mais um
policial ouvirá de “um(a) poderoso(a)”:
- “Vai guinchar meu carro???? Mas
você sabe com quem está falando????”.
Quem viver, verá!
(*) É Tenente Coronel
da Polícia Militar